Certo
dia, um fazendeiro podre de rico encontrou na estrada um padre medrosão que
tinha medo de curupira. Mais adiante, os dois conheceram um roceiro com cara de
bobo e voz de taquara rachada.
Os
três descobriram que não gostavam de viajar solitários: a viagem pormetia ser
longa e o caminho, deserto. Resolveram formar um cortejo: o padre e o
fazendeiro montados em bons cavalos. O roceiro, num burro velho.
Os
três viajantes pararam numa venda. Comeram jabá, com feijão e mandioca, depois
um copo de jurubeba.
Antes
de dormir, não é que o dono da venda pegou um queijo e cabra e deu de presente
para eles? Tão pequetitinho que nem dava para dividir.
O
padre, que era muito sabdo, deu uma ideia:
Dormiram
que deus deu. No canto do primeiro galo pularam da cama, selaram os cavalos
enquanto o roceiro ajeitava seu burro velho. Engoliram café com vento… e pé na
estrada.
A
fome apertou, o padre foi contando o seu sonho:
-
Sonhei com uma grande escada de ouro, cavejada de marfim. Começava juntiho do
meu travesseiro… furava as nuvens lá em riba… ia subindo, subindo… e sabem onde
terminava?
-
Não – respondeu o fazendeiro.
-
No céu. Ninguém pode senhar com coisa mais bonita. Conforme o combinado, o
queijo é meu.
-
Pois eu – disse o fazendeiro, picando o rolo de fumo – sonhei com um lugar
iluminadão. Só que não tinha lâmpadas.
-
Como não tinha lâmpadas? – perguntou o padre.
-
A luz nascia das coisas – explicou o fazendeiro.
-
Vocês já viram um cacho de banana servindo de lustre? Pois nesse lugar tinha.
Já viram areia de prata de puro diamante? Pois era assim nesse lugar que
sonhei.
-
E pode-se saber que lugar era esse? – perguntou o padre, sem jeitão.
-
O céu. Você sonhou com a escada pro céu. Eu sonhei que já estava lá. Conforme o
combinado, o queijo é meu. – O fazendeiro foi abrindo o surrão para pegar o
queijo. Jacaré achou? Nem ele.
-
Ué! Onde se meteu o danado?
-
Agora que vocês contaram o sonho – falou o roceiro – tenho uma coisa pra contar.
O
padre e o fazendeiro olharam o roceiro de banda.
-
Cês não ouviram um barulho de noite? Pois era eu que me levantei pra comer o
queijo. Como vocês estavam no céu, achei que não precisavam mais do queijo.
Joel
Rufino dos Santos. História de Trancoso. Ática.
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